Pedra do Cachorro. Se você gosta de turismo de aventura certamente já escutou esse nome. Se nunca ouviu falar, está na hora de corrigir a falha e dar uma esticada até São Caetano, município do Agreste de Pernambuco, a 153 quilômetros do Recife. É lá que fica a Pedra do Cachorro, um monte imponente e desafiador que se eleva entre vegetação da caatinga, com 520 metros de altura e altitude de 1.146 metros acima do nível do mar.
Mais alta que o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, ela é o principal atrativo da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Pedra do Cachorro, unidade de conservação protegida pela Agência Estadual de Meio Ambiente desde junho de 2002. Para conhecer a reserva é preciso entrar em contato com o proprietário, Guaraci Cardoso, índio paraense que trocou o Norte brasileiro pelas terras pernambucanas em 1995.
Quando comprou a fazenda, 20 anos atrás, as plantas da caatinga tinham sido derrubadas e substituídas por roçado. “A pedra era pelada”, recorda Guaraci Cardoso. Com paciência e determinação, ele fez uma sementeira, espalhou 1.500 mudas de espécies nativas no terreno e esperou a resposta. Não só o plantio vingou como a mata se regenerou ao deixar de ser destruída, comemora Guaraci.
E é em meio a pés de umbu, angico, quipá, umburana-de-cambão, umburana-de-cheiro, macambira, coroa-de-frade, xique-xique, catingueira, araçá nativo, jurema e ubaia, entre outras espécies, que os visitantes percorrem as trilhas de acesso à Pedra do Cachorro. Flores e ninhos de pássaros, como beija-flor e ferreiro, pendurados em árvores, enfeitam o caminho.
São duas as vias oficiais de escalada ao topo da montanha, informa Guaraci Cardoso, militar com experiência em sobrevivência na selva e praticante de esportes radicais. “A mais antiga é a Number One e a mais nova é a Ilusão do Sertão”, diz ele. Há, também, a opção de começar a subida com uma caminhada e no último lance fazer a escalada até o cume. “Essa é a escalaminhada”, ensina.
Quem escolhe o caminho é você, mas quem define as regras a serem seguidas na fazenda é o proprietário. “A RPPN Pedra do Cachorro é uma área de interesse científico, onde são realizadas pesquisas, com vocação turística. O visitante não pode perturbar os animais nem cortar árvores, acender fogueira ou largar na reserva o lixo que produz. É preciso respeitar a natureza”, ressalta Guaraci.
A propriedade de 23 hectares, dos quais 18 hectares classificados como RPPN, serve de moradia para animais como tatu-bola, onça-parda (espécies ameaçadas de extinção), lobo-guará, raposa e mocó; insetos como as abelhas nativas (sem ferrão); e aves como, águia, galo-de-campina, concriz, acauã, salta-caminho e sabiá. “Preservação é o nosso foco e quem vem aqui deve ajudar a cuidar desse ambiente também.”
Guaraci recebe visitantes que sobem e descem a Pedra do Cachorro no mesmo dia; grupos que escalam e passam a noite no monte; e gente que apenas contempla a paisagem. Leve água e comida. O tempo da aventura depende do ritmo de cada um, porém fique certo de que serão horas e não minutos. Barraca e roupa de frio são essenciais ao pernoite.
A vegetação da caatinga, observa Guaraci Cardoso, não se apresenta da mesma forma o ano todo. “As plantas, agora, estão secas e vão secar mais ainda. Isso não quer dizer que estão mortas. Depois, elas acordam e ficam verdes. Se fossem ursos estariam hibernando”, compara. Nem todas estão dormindo este mês. O quipá (cacto da caatinga) está exibindo flores e frutos, que, aliás, são comestíveis, com sabor azedinho.
“Estamos abertos ao turismo de aventura, contemplativo e pedagógico, em harmonia com a pesquisa científica. Basta entrar em contato e passamos as informações necessárias à visita”, afirma Guaraci. O centro de convivência construído na fazenda é reservado ao alojamento de pesquisadores, nacionais e estrangeiros, que desenvolvem estudos por lá.
A RPPN integra o Monumento Natural Serra do Cachorro, o primeiro a ser criado em Pernambuco, em 2014, com área de 1.390,21 hectares, nos limites dos municípios de São Caetano, Brejo da Madre de Deus e Tacaimbó. A Pedra do Cachorro é o divisor geográfico das três cidades. “Bonito é vê-la pela manhã, coberta pela neblina, ouvindo o canto dos pássaros”, diz Guaraci Cardoso. Um convite sedutor.
BR-232
153 quilômetros até a cidade e mais 18 quilômetros até a reserva
2 horas e 40 minutos de carro
Contato: (81) 99691-1737 e (81) 99132-0519
25 reais para subir e descer no mesmo dia
50 reais para subir e descer com pernoite
150 reais se precisar de guia sem pernoite
200 reais se precisar de guia com pernoite
2 de setembro de 2018