Ao longo de vários anos, frei Telésforo Machado garimpou no Nordeste brasileiro rochas de arrecifes, conchas do mar, animais para empalhar, borboletas de cores sortidas, árvores petrificadas, fósseis de caranguejo e mais uma infinidade de objetos sempre na mesma linha. O resultado da busca é um gabinete de curiosidades em pleno Agreste pernambucano, no município de Camocim de São Félix, a 118 quilômetros do Recife.
Ciência e religião caminham de mãos dadas no Museu Carmelitano de História Natural fundado pelo frade em 1963, fechado em 2015 e reaberto em agosto de 2018. Quando começou a recolher as peças, frei Telésforo não tinha a intenção de torná-las públicas. “Era para estudo interno no seminário, mas o interesse da comunidade cresceu e ele passou a receber os visitantes”, informa frei Cristiano Garcia, historiador e curador do museu.
Representante de uma era quase em extinção, o Museu Carmelitano de História Natural tem em seu acervo uma diversidade de insetos identificados pelo nome popular e científico; um peixe petrificado da região do Araripe com idade estimada em 140 milhões de anos; rochas de vulcão; exemplares de pirita, a pedra conhecida como falso ouro; carapaças de tartaruga; tamanduá, jaçanã e tatu empalhados.
O acervo reúne quase quatro mil peças de mineralogia, anatomia, paleontologia, petrologia, zoologia, entomologia, taxidermia (alguns bichos empalhados estão guardados porque precisam ser restaurados), numismática e filatelia, além de objetos sacros e da cultura popular. “Frei Telésforo era um formador e também pedia aos alunos para catarem peças”, diz o frade. Com 96 anos de idade, o religioso mora no Convento Carmelita do Recife.
No Sítio Nossa Senhora Peregrina, em Camocim de São Félix, onde o museu ocupa uma casa ao lado do convento dos carmelitas, o visitante encontrará materiais de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba entre outros lugares. É uma das poucas coleções de história natural ainda existentes no Estado, observa a professora do Departamento de Museologia da Universidade Federal de Pernambuco, Emanuela Sousa Ribeiro.
Até 2015, o museu funcionava nas dependências do convento, uma edificação feita em 1953 para servir como casa de formação de carmelitas no Brasil. Os frades construíram o prédio com recursos arrecadados durante a peregrinação de Nossa Senhora do Carmo pelo Brasil em 1951. “Houve muita doação de joias por parte de fiéis”, comenta frei Cristiano Garcia. A área escolhida para o seminário e noviciado, uma antiga fazenda de café, fica entre as estradas de acesso a São Joaquim do Monte e Bonito, numa altitude de 726 metros acima do nível do mar.
O clima serrano e a expectativa de um futuro desenvolvimento do lugar, à época vinculado a Bezerros, influenciaram na seleção do terreno. Hoje, a escola que formou gerações de frades até 2008 é uma hospedaria, batizada Casa de Encontro, com 54 quartos. “O convento é o museu também, o visitante pode conhecer o prédio, se ele não estiver ocupado por algum evento, por isso é bom entrar em contato antes e combinar”, avisa frei Cristiano Garcia. Uma parte da edificação é reservada para a moradia de 13 carmelitas.
Não encerre o passeio sem entrar na casa de farinha em atividade há 22 anos no Sítio Nossa Senhora Peregrina. É uma chance rara de ver as etapas de produção desse alimento tão curinga na mesa nordestina. O serviço completo, da retirada das cascas da mandioca à torra no forno, demora uma hora e meia. “O trabalho é grande, viu? Farinha não é caro não”, diz, em tom de brincadeira Maria de Lurdes Alves de Queiroz, Lulu da Farinha, que fornece para os frades e para um mercado em Camocim.
O Museu Carmelitano de História Natural integra um roteiro de centros culturais particulares no Agreste pernambucano. “Compensa esticar o passeio e ir ao Museu de Arte e Cultura em Agrestina, ao Museu de Arte Sacra em Altinho e ao Museu Caxiado em São Joaquim do Monte, com esculturas a céu aberto”, sugere. “Esse acervo não é nosso, é de todos”, anuncia.
Sítio Nossa Senhora Peregrina (acesso pela PE-112)
118 quilômetros do Recife
2 horas de carro
Todos os dias com agendamento prévio
Horário: a combinar
Contato: (81) 3743-1122 (manhã) e (81) 99814-9488
3 reais por pessoa
2 de setembro de 2018