Um Século de Transformação
Ano de nascimento do Jornal do Commercio, 1919 apresentou uma grande novidade no futebol pernambucano. Em uma investida ousada, o Sport comprou do Fluminense uma arquibancada de madeira para instalar no terreno que havia alugado na Avenida Malaquias, na Zona Norte do Recife. Ela custou oito contos e quinhentos, pagos à vista. Veio de navio, media 75 metros de comprimento por 40 de largura e 5 de altura. Abrigava duas mil pessoas.
A arquibancada deu impulso ao futebol local por oferecer conforto ao torcedor, que cada vez mais se apaixonava pelo esporte que começou a ser praticado pelas elites, principalmente pelos ingleses que moravam no Recife nos primeiros anos do século 20. O Botafogo veio para a inauguração do “Campo do Sport” em 1919. O Fogão venceu duas vezes o Leão, uma vez o América, mas perdeu para o Santa Cruz por 3×2, em um jogo memorável. Foi a primeira vitória de um clube do Nordeste sobre um do Sudeste.
Nesse período, os jogos passaram a ser atração social. Os homens vestiam paletó, gravata e usavam bengala, traje impensável para os padrões atuais, até por conta da temperatura mais elevada. Dentro de campo, a força que o futebol começava a obter e que o fez tomar o lugar do turfe e das regatas no gosto popular gerou um debate entre amadorismo e profissionalismo. Sport e América eram adeptos da importação e do pagamento de salário de jogadores; já Náutico e Santa Cruz, contrários. Não precisa se estender muito para dizer o rumo que o futebol tomou. O primeiro contrato registrado na Federação foi o de Luiz Zago, do Central, em 1937.
CAMPOS
Os primeiros jogos eram disputados na Campina do Derby (campo em frente ao quartel da Polícia Militar), Campina de Santana, em Casa Forte, e no British Club, onde hoje é o Museu do Estado. Depois vieram campos em Olinda e Areias. Nenhum deles passava perto dos moldes de hoje. Em 1917, a Liga Sportiva Pernambucana (espécie do que é hoje a Federação Pernambucana) alugou um campo pertencente ao coronel Frederico Lundgren. Esse campo era os Aflitos, que foi adquirido posteriormente pelo Náutico.
O Sport, então, alugou o terreno da Avenida Malaquias. O América utilizava o campo da Jaqueira, que também foi usado pelo Tramways. O primeiro jogo noturno foi realizado no campo do Varzeano, na Várzea, em 1928. Foram instalados quatro postes, dois em cada lado do campo.
A Ilha do Retiro, casa do Sport até hoje, foi inaugurada em 1937. O Náutico já tinha os Aflitos. O Santa Cruz, a partir de 1929, passou a treinar e jogar no campo da Rua São Miguel, em Afogados. Apenas em 1943 o tricolor se estabeleceu no terreno da Avenida Beberibe. O primeiro estádio no local ficou conhecido como Alçapão do Arruda.
Em 1972, a inauguração após a ampliação, com 50 mil espectadores para Santa 0x0 Flamengo. Em 1982, entretanto, foi concluída a obra do anel superior. Hoje, o Santa empenha esforços para a conclusão do seu Centro de Treinamento, em Aldeia. Sport e Náutico têm seus CTs, em Paratibe e Guabiraba, respectivamente.
A última grande transformação em termos de estádios foi a Arena de Pernambuco. Construída para sediar jogos da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014, oferece conforto e recursos que nenhuma outra praça esportiva detém. O problema é que, com a volta do Náutico aos Aflitos e com Sport e Santa com suas casas próprias, o futuro do equipamento gera preocupação.
Trio de ferro: bons e maus momentos
Centenários, os três grandes clubes do Recife acumulam alegrias e tristezas ao longo da história. A fidelidade dos torcedores, entretanto, segue firme, nos bons e maus momentos. A maior hegemonia local segue com os alvirrubros, campeões pernambucanos de 1963 a 1968. O hexa ainda é um luxo exclusivo do Náutico, que também foi o primeiro time do Estado a jogar a Taça Libertadores. A façanha ocorreu em 1968, graças ao vice da Taça Brasil (perdeu para o Palmeiras) obtido no ano anterior. A geração de Bita, Lala, Nino, Salomão, Ivan Brondi, entre outros, marcou época. O Timbu bateu até o Santos de Pelé, 5×3, no Pacaembu, pela Taça Brasil de 1966.
Pernambuco só voltaria à Libertadores duas décadas depois, em 1988, com o Sport. O Leão ganhou o direito de disputar a competição por ter sido campeão brasileiro em 1987. O Sport voltou à principal competição de clubes da América do Sul em 2009, graças ao título da Copa do Brasil, em 2008, quando bateu o Corinthians na final. Na Libertadores de 2009, o rubro-negro avançou às oitavas, sendo eliminado pelo Palmeiras.
O Santa Cruz nunca jogou a Libertadores. Já na Copa Sul-Americana, em 2016, o Tricolor teve o sabor de eliminar o Sport. Os corais chegaram às oitavas, caindo para o Independiente de Medellín-COL. Sport e Náutico também se enfrentaram pela Sula. Foi em 2013, com o Leão avançando nas penalidades. A melhor campanha pernambucana na Sul-Americana foi do Sport, em 2017. O Leão chegou às quartas, sendo eliminado pelo Junior Barranquilla-COL.
Em termos locais, Sport e Santa Cruz foram pentacampeões. O Tricolor, de 1969 a 1973. O Leão, duas vezes. De 1996 a 2000 e de 2006 a 2010. O rubro-negro ainda possui três Copas do Nordeste (1994/2000 e 2014) e uma Série B (1990). O Tricolor tem um Nordestão (2016).
ANOS DIFÍCEIS
O trio de ferro da capital também passou por maus bocados. O fundo do poço, sem dúvida, foi a queda do Santa Cruz para a Série D. O Tricolor ficou na Quarta Divisão do Brasileiro em 2009, 2010 e 2011, quando subiu para a Série C. Os corais conseguiram o acesso para Segundona em 2013, quando se sagraram campeões da Terceira Divisão. No momento, o Santa está de novo na Série C, assim como o Náutico. O Timbu também jogou a Terceirona em 1999.
O Sport esteve perto de cair para a Série C em 2005. O Leão foi salvo por um empate por 3×3 entre Vitória e Portuguesa, no Barradão. Sport e Vitória acabaram com a mesma pontuação, mas o rubro-negro baiano caiu por ter uma vitória a menos. (M.L)