Aula de cultura, costumes e história

JOSÉ TELES

Naquele início de abril de 1919, cordialidade e civilidade eram artigos facilmente encontrados no Recife. A capital pernambucana dispunha de quatro jornais diários. Chegaria mais um, cujo dono era um abastado homem de negócios. Mesmo assim, os jornalões recifenses foram pródigos em maiores encômios ao Jornal do Commercio, do “Coronel” João Pessoa de Queiroz, que tinha como diretor o senhor Salomão Filgueiras; e como redator-chefe o poeta Odilon Nestor. No dia em que a edição inaugural do JC chegou às bancas, o Jornal Pequeno publicou extensa matéria de capa sobre o concorrente, que demonstrava não vir apenas para fazer número, e o texto do JP reconhece isso.

“… Assim, é de prever o prestígio que terá o Jornal do Commercio, cujo primeiro número se apresenta com 12 páginas, num feitio material que deixa a melhor das impressões. Longo o seu serviço de telegramas do Rio de janeiro. Leitura variada e interessante.” Em seguida, é transcrito o primeiro editorial do JC, em verdade uma análise da conjuntura de um século atrás. Um trecho: “…E visamos também o nosso meio político dos males que o assoberbam no momento, com as consequências mais funestas para o Norte e Pernambuco em particular. A nossa terra, tão rica em tradições democráticas, berço e baluarte de todas as aspirações de liberdade no Brasil, apresenta o espetáculo de uma Babel em que, evidentemente, estamos a pique de tresvariar à força de não nos entendermos. Há um certo número de grupos desarvorados. Há meia dúzia de individualidades, e medíocres na sua maioria, olhando só o próprio bem-estar e triunfando quase sempre no choque dos apetites desapoderados. Nota um desprezo absoluto pelas mais comezinhas normas republicanas”.