Com a cor viva de Pernambuco

Tecer um panorama das artes visuais em Pernambuco no último século é, também, falar sobre uma parte fundamental da arte brasileira. Ainda nas primeiras décadas do século 20, os irmãos do Rego Monteiro – Fédora, Joaquim e Vicente – iniciaram uma série de intercâmbios com a Europa, a partir de 1913, entres idas e vindas, cada um.
Lá, entraram em contato com a efervescência das vanguardas das artes plásticas, movimento que se assemelhava ao de outros criadores brasileiros que passaram a se deslocar com mais frequência para o Velho Continente. Essas influências já começavam a se incorporar em seus trabalhos, dialogando, no caso de Vicente, com a cultura brasileira, trazendo um olhar atento para as influências indígenas.

O polivalente Vicente – era também poeta, pintor, bailarino e piloto de automóvel – foi responsável pelo pioneirismo de realizar uma exposição da Escola de Paris no Teatro de Santa Isabel, em 1920 com quadros de artistas como Picasso. Só depois de passar pela capital pernambucana esses quadros seguiram para o Rio de Janeiro e para São Paulo.

Apontavam, assim, para transformações que se concretizariam a partir da Semana de Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, na qual quadros de Vicente estavam entre os expostos. Em diálogo com os modernistas também estava a obra de Cícero Dias, que no Rio de Janeiro, em 1931, chocou o mundo da arte ao exibir a pintura Eu Vi o Mundo… Ele Começava no Recife. Com toques de “surrealismo erótico”, o quadro originalmente media 15 metros de comprimento por 1,94 metro de altura, ressaltava a visão singular do artista.

Cícero viveu a maior parte da vida em Paris, mas nunca se esqueceu da cor, da luz e do tema local. Foto: Alexandre Belém/Acervo JC Imagem

Em 1932, foi instalada a Escola de Belas Artes de Pernambuco, uma iniciativa de artistas locais para incentivar e profissionalizar a atividade no Estado. O fomento à criação foi estimulado ainda pelo Ateliê Coletivo, criado por Abelardo da Hora, em 1952, como resultado da Sociedade de Arte Moderna do Recife. Em 1953, outra instituição, a Escolinha de Arte do Recife, criada por Noemia Varela e Augusto Rodrigues, também se comprometeria com o ensino e a fomentação das artes.

As influências modernas tomaram formas próprias por aqui, em diálogo com a efervescência e herança cultural do Estado. Como apontou o jornalista e crítico Bruno Albertim, em especial publicado no JC, sem Pernambuco a arte moderna não seria a mesma.

A crítica de arte local, ainda que em alguns momentos tenha entrado em choque com o estranhamento que alguns desses trabalhos provocavam, acompanhou de perto a genialidade e singularidade de artistas como Francisco Brennand, Tereza da Costa Rêgo, Marianne Peretti, Montez Magno, José Cláudio, Murilo La Greca, Aloísio Magalhães, Reynaldo Fonseca, João Câmara e Raul Córdula.

Marianne Peretti, Francisco Brennand e Tereza Costa Rêgo forjaram uma identidade própria. Fotos: Acervo JC Imagem.

Também com importância local e nacional, cada um com sua linguagem, da pintura à escultura e passando pela xilogravura, destacaram-se Gilvan Samico, Alcides Santos, Ladjane Bandeira, Virgolino, Gilvan Samico, J. Borges, só para citar alguns.

De fato, mapear a produção pulsante das artes visuais em Pernambuco em poucas linhas é tarefa quase impossível, tamanha sua importância e a diversidade de artistas que produziram e continuam criando no Estado.

Nos anos 1960 e 1970, a inquietação de artistas como Paulo Bruscky e Daniel Santiago faz com que as obras se tornem cada vez mais híbridas, multimídias. Bruscky, por exemplo, já estava conectado com movimentos internacionais, como o de arte postal, sendo um de seus pioneiros no Brasil.

Bruscky dialoga com a vanguarda internacional. Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem.

As brigadas muralistas também reforçaram a vocação de parte dos nossos artistas para a arte pública, contestadora. Videoarte, fotografia, pintura: nos anos 1980, 1990, 2000 e atualmente, Pernambuco continua a revelar talentos que buscam ressignificar o mundo através da arte, novas formas e suportes de expressão.