Convocados para a maior missão

A primeira edição do Jornal do Commercio foi às ruas em uma quinta-feira, 3 de abril de 1919. Em preto e branco, a edição de caderno único tinha 12 páginas e quase nenhuma fotografia. De lá pra cá, o jornal fundado pelos Pessoa de Queiroz passou por grandes transformações de conteúdo editorial e de relacionamento com os leitores e a comunidade. Além disso, recebeu investimentos que possibilitaram a expansão e a modernização do processo de produção e distribuição. Mas a estrada que levou o JC à liderança de assinaturas no Norte e Nordeste do País nem sempre foi fácil.
Em 1987, quando o Grupo JCPM, do empresário João Carlos Paes Mendonça, assumiu a gestão do jornal, o periódico estava sem rodar por 40 dias, como resultado de uma longa crise financeira. A empreitada que transformou o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) em case de sucesso no Brasil teve alguns nomes fundamentais: Ivanildo Sampaio, Sérgio Moury e Eduardo Lemos.

Moury, que trabalhava na área agroindustrial da rede de supermercados Bompreço, então pertencente ao empresário João Carlos Paes Mendonça, foi o primeiro a embarcar nessa jornada. “Era uma sexta-feira e eu estava em Belo Jardim almoçando com o gerente do Bandepe (Banco Estadual de Pernambuco), quando ele perguntou se João Carlos havia comprado o Jornal do Commercio. Disse que não sabia. De lá, segui para Maria Farinha, para visitar Marcelo Silva, diretor do Bompreço na época. Ele disse que na segunda-feira iríamos para o JC. Fomos nós dois que, literalmente, abrimos as portas do prédio, na Rua do Imperador”, lembra.

O cenário era desanimador. “A folha de pagamento estava atrasada em três meses. Começamos a regularizar os pagamentos e a resolver os casos que estavam na Justiça. Não tínhamos ar-condicionado, e o telefone vivia desligando. Quando começamos a botar a Redação para funcionar, tínhamos apenas 16 linotipos (máquina de impressão com letras em chumbo), todos com letras faltando. Pedi que juntassem e vissem o que poderia ser aproveitado. Das 16, sobraram 13”, conta Moury, que assumiu a Diretoria Administrativa do JC.

Com a crise, o jornal quase não tinha mais repórteres. Foi Ivanildo Sampaio – que iniciou a carreira no próprio JC e trabalhou em outras empresas de mídia dentro e fora de Pernambuco – o responsável por montar uma nova equipe de trabalho. “Fui chamado para dirigir a Redação, e cheguei em março de 1987 com a missão de colocar o jornal na rua no dia 3 de abril. A Redação estava desmontada. Fui obrigado a ir atrás de estudantes. Cheguei na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), as duas onde existia o curso de jornalismo, e pedi que me indicassem os alunos mais talentosos do penúltimo e último semestres. Assim, começamos a montar um novo jornal, nos diferenciando em qualidade”, conta o ex-diretor de Redação do JC e atualmente coordenador do Comitê Editorial do SJCC.

GESTÃO Sérgio Moury, Ivanildo Sampaio e Eduardo Lemos comandaram o processo que transformou o JC em líder de assinaturas de impresso no Norte e Nordeste. Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem.

Na época, era comum que os jornalistas também trabalhassem em assessorias de imprensa, acumulando dois empregos. O JC passou a exigir exclusividade de seus funcionários, o que foi considerado um marco no jornalismo do Nordeste. “Fui abordado mais de uma vez, inclusive por jornais de outros Estados, por atitudes que nós adotamos na retomada do jornal. Estávamos mudando as regras do jogo”, lembra Eduardo Lemos, ex-superintendente e ex-membro do Comitê Editorial do JC.

Lemos trabalhava como assistente da presidência do Bompreço quando recebeu a missão de auxiliar no resgate do Jornal do Commercio. “Lembro que disse: ‘mas João Carlos, eu não entendo nada de jornal.’ Ele respondeu: ‘nem você nem eu.’ Foi uma experiência riquíssima, nova para todos nós.”

Da rede de supermercados, a gestão trouxe a tradição de investir na formação do quadro de funcionários. “Nós, gestores do jornal, participávamos das capacitações junto aos gerentes do Bompreço. Isso ajudou muito. Na minha geração, nenhum jornalista tinha formação para dirigir uma Redação, a gente aprendia na prática. Aos poucos, meus editores foram aprendendo a administrar suas editorias, com planejamento de cargos e controle de horas extras, por exemplo”, lembra Ivanildo Sampaio.

Além da qualificação profissional, o JC passou a receber investimentos em recursos humanos, tecnologia, estratégias de marketing e circulação, o que o transformaram em líder de assinaturas em poucos anos. Sérgio Moury esteve à frente do processo de modernização do parque industrial. Ele visitou empresas de comunicação de dentro e de fora do Brasil para conhecer as novas tecnologias. A primeira transformação veio com a impressão em nylon-print. Nessa época, a gestão passou a investir em publicidade, com as campanhas “o JC mudou da água para o vinho” e “você está lendo o jornal mais novo da América Latina”. “Foram campanhas muito bem-sucedidas, que elevaram a tiragem”, lembra Moury. Surgiu, então, a necessidade de partir para o offset.
A partir daí, o jornal cresce e começa a encabeçar importantes discussões para Pernambuco, como a construção da refinaria e do Complexo de Suape, a duplicação da BR-232 e as escolas em tempo integral. O reconhecimento vem em seguida, com premiações regionais e nacionais.

Referência em credibilidade, o JC está hoje disponível em diferentes plataformas. A versão digital, o JC Premium, pode ser consumida através do computador ou na palma da mão, no mobile. As notícias também podem ser lidas no JC Online e nas redes sociais. A marca Jornal do Commercio está ainda na origem dos demais veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC): Rádio Jornal, TV Jornal e Portal NE10.

“Vejo com preocupação o futuro do jornal impresso em todo o mundo, mas, ao mesmo tempo, olho com otimismo a função do jornalista de produzir conteúdo. Um bom jornalista de impresso vai ser um bom jornalista nas plataformas que vierem pela frente, em qualquer lugar”, aposta Ivanildo Sampaio.