Por Mona Lisa Dourado
TERRA DO FOGO – Incontáveis fogueiras dispersas. Colunas de fumaça que pareciam flutuar sobre as águas na neblina do amanhecer. O cenário místico não poderia ser mais sugestivo para batizar aquele pedaço ainda desconhecido das Américas: Terra do Fogo. As chamas que ardiam no chão, e até dentro de canoas, protegiam os índios Sélknams e Yámanas do frio austral. Foram avistadas por olhos estrangeiros pela primeira vez em 1520, quando o navegador português Fernando de Magalhães percorria os mares do sul pelo estreito que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico e não por acaso leva o seu nome. Desde essa época, a Terra do Fogo acende a imaginação de visitantes das mais longínquas latitudes.
Antes acreditava-se que o território era parte da grande massa continental que conduziria ao Polo Sul. Até o corsário inglês Francis Drake descobrir a passagem interoceânica para a Antártida e constatar que a Terra do Fogo, na verdade, é um arquipélago. De dimensões tão extraordinárias que a Ilha Grande, a maior da América do Sul, é compartilhada por dois países. A metade oriental dos 45 mil km2 de sua superfície pertencem à Argentina, enquanto no lado ocidental flameja a bandeira chilena.
Justamente na segunda banda, ao sul do sul, nos concentramos nesta viagem até a última fronteira, antes de cruzarmos o Oceano Austral rumo ao continente gelado.
O que já foi um destino remoto, hoje desponta como um oásis para o turismo de interesses especiais, que conjuga natureza e patrimônio cultural. Continua selvagem, mas com o benefício de oferecer conforto na medida certa em charmosos lodges.
Parte da área conhecida como Região de Magalhães e Antártica Chilena, a Terra do Fogo é feita de contornos, texturas e coloridos diversos. A capital da ilha, Porvenir, serve como ponto de partida para desvendá-los. Ao norte, a paisagem é dominada pela planície de tons terrais dos pampas, formada por vastas e planas extensões de pastos povoados por ovelhas e guanacos. Aí se estabeleceram imigrantes em belas estâncias de gado, algumas convertidas em aconchegantes pousadas.
Margeando montanhas com picos nevados, caminhos de estradas curvas revelam um ambiente úmido e verde. Bosques nativos de lengas, coihues e calafates emergem, servindo de habitat a uma fauna silvestre ainda mais rica de pássaros como condores e pica-paus, além de raposas e castores. Esse é também o esconderijo de inúmeros lagos prateados e rios caudalosos repletos de salmão e truta, parque de diversões para amantes da pesca desportiva.
Surpresa maior ainda está por vir. No extremo sul, uma das regiões menos exploradas, gelos eternos esculpem fiordes e glaciares que avançam sobre estreitos canais. No mar, é a vez de golfinhos, baleias e lobos-marinhos roubarem a cena.
Petreles, albatrozes e cormoranes acompanham as embarcações. Como se anunciassem que há mais, muito mais horizonte a descobrir nessa terra onde um veemente céu alaranjado acalenta a alma a cada entardecer.
Sélknams e Yámanas são dois dos povos originários da Terra do Fogo. Também conhecidos como Onas, os primeiros habitavam as estepes do norte e os bosques do sul do arquipélago. Eram caçadores terrestres, essencialmente nômades, que viviam da captura de guanacos, aves silvestres e roedores. Altos e robustos, vestiam-se apenas com uma grande capa de pele. Já os Yámanas pertenciam ao grupo dos habilidosos caçadores marítimos e passavam grande parte de suas vidas dentro de canoas. Quase não usavam roupas, suportando as baixas temperaturas graças à gordura de lobos marinhos com a qual cobriam seus corpos. Os últimos descendentes dessa etnia vivem em Puerto Williams, na Ilha Navarino.
×Reportagem, Edição e Fotos.
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Fotos antigas da sessão Exploradores são reprodução da internet e do livro Endurance: a lendária expedição de Shackleton à Antártida, que traz imagens de Frank Hurley, integrante da expedição de Ernest Shakleton.
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Alejandro Toro
Andréa Tellez
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Daniela Contreras
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Nicolás Paulsen
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A todos os entrevistados
Ao Proantar e à Marinha do Brasil