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Recife, uma cidade que se espalha no século 20
Construções antigas e modernas se misturam no bairro de Casa Forte na Zona Norte do Recife – Foto Guga Matos – JC Imagem
A Zona Norte do Recife já era ocupada no princípio do século 20, porém com pequenos núcleos de moradia em Casa Forte, Poço da Panela, Apipucos, Monteiro, Encruzilhada e Beberibe ligados pelas estradas por onde passavam o bonde. Essa organização ainda colonial, informa o professor de arquitetura e urbanismo da UFPE Fernando Diniz, é alterada por uma série de obras que possibilitam novas construções nos espaços vazios existentes entre os núcleos mais antigos.
É a retificação e pavimentação de vias públicas, como a Avenida Rosa e Silva, Avenida Rui Barbosa e a Estrada de Belém, que abrem caminhos para um Recife além do Centro. De 1920 a 1960, bairros da Zona Norte, e da Zona Oeste, onde havia uma casa aqui e outra lá longe, são gradativamente povoados. “O Espinheiro nos anos 50 tinha áreas vazias, parte da Madalena só se expande nos anos 60, Jardim São Paulo e Hipódromo se consolidam na década de 40”, declara o professor.
A abertura de ruas para carros e ônibus muda o perfil da ocupação urbana, destaca Fernando Diniz. “Como as pessoas conseguem se deslocar com mais facilidade, áreas antes consideradas distantes começam a despontar como lugar de moradia. A linha do bonde levava a uma ocupação linear próxima das estradas”, compara. A cidade formal, observa o arquiteto e urbanista, cresce junto com as áreas pobres em quase todos os bairros. “O Recife é um mosaico em sua formação.”
Terrenos que ficaram sem compradores são doados a instituições públicas e é nesse momento que surgem a Escola de Aprendizes Artífices (depois Escola Técnica Federal de Pernambuco), num edifício art déco da década de 1930 hoje conhecido como o prédio do Cinema da Fundação, restaurado e reaberto no fim de março de 2018; e a Faculdade de Medicina, atual Memorial da Medicina.
As décadas de 30 e 40 também viram a população pobre, expulsa das áreas centrais do Recife, subir os morros da Zona Norte, continua o arquiteto e urbanista Geraldo Marinho. Um mapa da cidade, de 1943, registra o comecinho da ocupação do Morro da Conceição, do Alto José do Pinho e da Bomba do Hemetério. “São os primeiros trechos povoados nas partes altas, mas a área ainda está cheia de descampados”, afirma Geraldo Marinho, que atua como consultor.
Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife, foi uma das primeiras colinas ocupadas na capital – Foto – Guga Matos
Contribuíram para a expulsão da camada mais pobre a valorização do solo nos bairros do Centro e o aterro de áreas planas alagadas onde seriam criados loteamentos. “O refúgio dos expulsos é a terra sem valor como solo urbano”, declara Geraldo Marinho. A população de Casa Amarela, que reunia diversos morros da Zona Norte e formava o maior colégio eleitoral da cidade, subiu de 81 mil pessoas em 1950 para 126 mil habitantes em 1960, diz o arquiteto.
Casa Amarela, hoje, é quase toda plana. Apenas um morro continua fazendo parte do bairro, o Alto Santa Isabel. Desde o fim dos anos 80 o Morro da Conceição e outras colinas chamadas de Grande Casa Amarela são bairros independentes. As encostas, comenta Geraldo Marinho, tinham o desenho muito parecido com a situação atual em mapa de 1965. De lá para cá, apenas aumentou o número de casas e moradores, declara.
8 de abril de 2018