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A cidade e o desafio de traçar o seu futuro
Primeira capital brasileira a completar 500 anos de fundação, em 12 de março de 2037, o Recife está preparando o terreno agora para chegar a cinco séculos de vida com uma nova feição. A proposta da prefeitura, costurada em conjunto com a sociedade, é reduzir desigualdades sociais, fazer de ruas e praças ponto de encontro de moradores, melhorar a infraestrutura urbana, investir na educação e preparar a cidade para as transformações culturais, tecnológicas e econômicas do século 21.
Bairros de Santo Antônio, Recife e Santo Amaro no Centro da cidade. Foto – Arnaldo – JC Imagem
Tudo isso faz parte do Plano Recife 500 Anos, lançado em 2013 numa tentativa de resgatar o planejamento de longo prazo, numa metrópole com 220 quilômetros quadrados, 94 bairros e uma população de 1,6 milhão de habitantes. “Iniciamos o processo há cinco anos com o diagnóstico. Tivemos a fase de discussão de 2015 a 2017 e em 2018 entramos em uma nova etapa. Pretendemos concluir até o fim deste ano (2018) um conjunto de projetos estratégicos de futuro” afirma o secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre.
No projeto de futuro que está sendo desenhado há vários caminhos a serem trilhados para explorar potenciais oferecidos pela cidade e ajustar desequilíbrios existentes, diz ele. Aos poucos, prefeitura e sociedade pretendem abrir as portas do Capibaribe e reconstruir a relação dos moradores com o rio. A primeira trincheira já foi aberta, o Jardim do Baobá às margens do Capibaribe, no bairro das Graças, na Zona Norte, próximo à antiga Estação Ponte D’Uchôa.
O Recife do futuro, diz ele, vai incentivar a construção de novas moradias com uma abordagem integral de habitação, para fazer a integração entre casa, transporte, escola, posto de saúde e atividades econômicas. E também quer estabelecer hierarquias de prioridades, a partir da gravidade do problema e da viabilidade financeira, para intervenções em áreas críticas de infraestrutura urbana, mapeadas em 2015 e onde residem 53% da população.
Prefeitura pretende estimular moradias no Centro do Recife. para diversificar os usos das edificações. Foto – Arnaldo – JC Imagem
Com o mapeamento, a prefeitura identificou nos morros e na planície, as áreas carentes de abastecimento d’água, sistema viário, drenagem, esgotamento sanitário, gestão de resíduos sólidos, acessibilidade, escadaria, iluminação e espaços públicos. “É um conjunto de ações que vai garantir qualidade urbana e ambiental a 53% da população que vivem num Recife oculto”, ressalta. Como a cidade não para, o plano, diz ele, precisa ser atualizado periodicamente e a execução das intervenções deve ser monitorada.
Boa Viagem e sua paisagem marcada pelas construções verticais. Foto – Arnaldo – JC Imagem
O olhar a longo prazo sobre a cidade também almeja a descentralização das atividades econômicas, hoje concentradas no Centro e em Boa Viagem. Bairros como Afogados, Encruzilhada, Água Fria, Beberibe e Bomba do Hemetério devem, sim, despontar como centros secundários onde os moradores possam resolver as suas necessidades sem precisar fazer grandes deslocamentos. “É nosso projeto de Dinamização Econômica das Centralidades”, informa.
“Mudar uma cidade consolidada é um grande desafio. A população do Recife dobrou de 1950 para 1970 (passou de 524.682 habitantes para 1.060.701 pelo Censo Demográfico do IBGE) e a infraestrutura urbana não acompanhou esse crescimento. O Recife, de certa forma, cresceu pobre”, constata o secretário de Planejamento Urbano.
Mais de 3.500 pessoas participaram das discussões e oficinas para definir o Plano Recife 500 Anos, que congrega organizações sociais e representantes do setor público, da iniciativa privada e da academia, por meio da Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries). “Queremos chegar em 2037 com uma cidade segura e com gente circulando nela. Esse não é o projeto de uma gestão, é um projeto de cidade. Se conseguirmos executar 70% das ações planejadas, o Recife será diferente em 2037”, diz Antônio Alexandre.
8 de abril de 2018