Foi com a tia Otacília que Joseane Firmino tomou gosto pelo artesanato. Quando era criança, aprendeu com ela o manuseio rápido das agulhas de crochê. Curiosa, foi descobrindo outras técnicas e hoje se nomeia arte-recicladora. Depois de ter sido babá, cambista e dona de loja de montagem de bicicletas, aos 56 anos, Joseane vive do artesanato. Ela faz parte de um grupo de 22 artesãos que participa pelo segundo ano do projeto Artesanato de Talentos, realizado pelo Instituto JCPM em parceria com o RioMar Recife e o Instituto Fecomércio. A iniciativa reúne artesãos dos bairros do Pina e de Brasília Teimosa para vender suas peças nos períodos de Carnaval, São João e Natal, em uma loja no RioMar.
Na fala, Joseane incorporou vocabulário de empreendedora. “Hoje sei precificar minhas peças e aprendi sobre gestão, qualidade dos produtos e atendimento ao cliente. Com a bagagem que adquiri nos cursos oferecidos pelo programa, consigo participar de feiras e eventos com minhas peças”, comemora. Integrante do Grupo de Reciclagem de Brasília Teimosa (GRBT), a artesã criou para este Natal anjos feitos com filtro de café reciclado. “Vi uns vasos com filtro de café reciclado no Centro de Artesanato de Pernambuco (Bairro do Recife) e tentei criar peças em casa. Até o cabelo do anjo é de borra de café”, conta, confiante que vai vender toda a produção que fez para a loja.
Empreendedorismo é um dos braços de atuação do Instituto JCPM. “Estamos no segundo ano do projeto Artesanato de Talentos e em 2018 queremos iniciar outros projetos. Nosso interesse é tratar o tema não só do ponto de vista de abrir um negócio, mas de incentivar uma atitude empreendedora na vida e na carreira”, explica a coordenadora de projetos sociais do IJCPM, Marina Amorim. “A loja no RioMar é um espaço de visibilidade para os artesãos venderem seus produtos. Além disso, eles estão sendo preparados para se tornar cada vez mais protagonistas e autônomos e conseguir caminhar com as próprias pernas”, complementa Marina.
O artesão Roberto da Silva, 28, é um dos campeões de vendas da loja. Em 2016 vendeu todas as peças e este ano quer repetir o feito. “Meus produtos são rústicos, trabalhados em palha, castanhola e cipó”, diz, lembrando que integra a Cooperativa Escola Mangue de Brasília Teimosa.
Cristina Lima, 56, deixou pra trás um pequeno negócio de conserto de produtos eletroeletrônicos para se dedicar ao artesanato. “Desde os 11 anos faço peças de crochê. Vendia algumas coisas na loja de eletroeletrônico porque as pessoas me viam fazendo e também recebia encomendas. A loja no shopping é uma oportunidade para que nossos produtos sejam conhecidos e aumentar a clientela”, diz a artesã.
“Além de ser um espaço de inclusão social desses artesãos, a loja também ressignifica o Natal do Nordeste com suas histórias e raízes. Nosso Natal não é o do Polo Norte. O espaço traz o conceito de sustentabilidade e o sentido de pertencimento”, afirma a consultora da Fecomércio Adriany Carvalho.
26 de novembro de 2017