Durante 100 anos de história, Central teve três hinos oficiais
Futebol e música. Uma combinação que mexe com a paixão, ainda mais quando os artistas, sejam os jogadores nos gramados ou os músicos e cantores nos palcos, conseguem uma sintonia com o público refletida em grandes espetáculos. Tendo como mascote uma Patativa, ave cujo canto encanta e a destaca na natureza devido à sua harmonia, nada mais natural que ao longo desses cem anos o Central tivesse também um hino que representasse a sua grandeza no cenário futebolístico, a exemplo de tantos outros times de futebol espalhados pelo país. Além do mais, por estar sediado numa cidade considerada um dos principais celeiros culturais do Nordeste, com destaque também no campo musical, não teria sentido que em sua centenária história, nenhuma composição fosse escrita para ressaltar a grandiosidade da Patativa do Agreste.
Oficialmente, ao longo da sua história, o alvinegro caruaruense teve três hinos. Pena que o primeiro deles, composto em 1921 pelo músico Yêdo Silva, compositor e regente da Jazz Central, não deixou qualquer registro de letra ou partitura para os dias atuais. Dessa forma apenas em 1969, na ocasião das comemorações do cinquentenário do clube, um concurso para a escolha de um novo hino foi lançado, tendo como vencedor o professor de música José Florêncio Neto, o prof. Machadinho, como era mais conhecido, também autor do Hino de Caruaru. O terceiro, mais recente, composto em 1995 pelo cantor Israel Filho, não por acaso acabou sendo o mais conhecido pelos torcedores alvinegros, por ter sido gravado, tanto que até hoje é executado pelas emissoras de rádio e televisão, nos noticiários relacionados à Patativa do Agreste.
A identificação do Prof. Machadinho com o Central era intensa, até mesmo por ter sido um ex-atleta do clube no final dos anos 20 e por quase toda década de 30. Lateral-direito baixinho (1,59 m de altura) e habilidoso, que de vez em quando subia ao ataque driblando os adversários até fazer o gol – daí a origem do apelido que carregou até o fim da vida – o ex-músico começou sua relação com o futebol em 1921. Ele iniciou na equipe infantil Patativa, onde permaneceu até 1923, quando passou a vestir a camisa rubro-negra do Sport Club Caruaruense, atuando pela equipe principal durante seis meses onde permaneceu até fecha as portas, retornando ao Central até 1936, quando deixou o futebol para casar. Após abandonar de vez os gramados, Prof. Machadinho passou a dedicar-se à música. Porém sua relação com o Central permaneceu não apenas pela condição de torcedor, tanto que era presença constante nos jogos da Patativa em Caruaru, mas por ter assumido o posto de orador oficial do clube até sua morte, em 06 de março de 2001, aos 90 anos.
“Papai morreu com a mágoa de nunca terem gravado o Hino do Central de sua autoria”, revela João Eudes Torres Florêncio, 74, filho do Prof. Machadinho. De fato, o único registro sonoro do hino composto pelo ex-lateral alvinegro, gravado em fita de rolo no auditório da extinta Rádio Difusora pelo Coral Masculino da Escola São Luís Gonzaga, do qual Prof. Machadinho era o regente, e que teve a participação da renomada pianista caruaruense Carminha Siqueira, já falecida, simplesmente desapareceu. De acordo com os familiares do músico, cujo sonho era tocar trombone de vara, o que não conseguiu por ter os barcos curtos, existe a expectativa de que a centenária Banda Comercial de Caruaru, onde Prof. Machadinho permaneceu por 47 anos, inicialmente tocando trompa e depois passando para o trompete, possa executar a canção por ocasião das comemorações do centenário do clube alvinegro.
Mas as músicas relacionadas ao Central não se restringem apenas aos hinos oficiais. Compositores caruaruenses torcedores do alvinegro do Agreste também tiveram o cuidado de criar canções em homenagens à Patativa. Uma delas, o frevo ‘Alvinegro Patativa’, composta por J.C.Santiago e Ari de Carvalho, na interpretação de Lindenberg, ressalta o Central recente, já no Lacerdão, destacando o sentimento causado pelas cores alvinegras aos centralinos, que jamais esquecem a paixão pelo clube, estejam onde estiverem, de Norte a Sul do território nacional. A outra, o forró ‘Avante Patativa’, composta especialmente para o centenário do clube, autoria de Domingos Accioly e Jucélio Vilella, que dividem também a interpretação, traduz a paixão que representa torcer pelo clube alvinegro ao longo dos cem anos de emoção, aos apaixonados pelas cores alvinegras que transbordam felicidade ao acompanharem os jogos do time no Lacerdão.
HINO DO CENTRAL SPORT CLUB – Letra: Prof. José Florêncio Neto – ‘Machadinho’ (1968)
CENTRAL, CENTRAL, CENTRAL
Tu és a glória do Nordeste
Teu nome social
Enche de encantos
A Capital do Agreste
É tua linda bandeira
Que ao tremular
Diante dos campeões
É dos mais fortes
O nosso brado
Sentindo a vitória
Dos nossos corações
Nasceste em Caruaru
Sobre um belo céu de anil
Pensando em Pernambuco
Enaltecendo o Brasil
Tuas cores alvinegras
Falam junto aos corações
Num desejo que tu sejas
Campeão dos Campeões
Prof. José Florêncio Neto.
HINO DO CENTRAL SPORT CLUB – Letra: Israel Filho (1995)
Meu glorioso alvinegro
És o campeão das emoções
Tua glória, teu passado
Sempre presente em nossos corações
Tua bandeira alvinegra
Ao tremular relembra a tua história
Enche de orgulho o nosso peito
Nos faz lutar em busca da vitória
És filho de Caruaru
Capital do Agreste em Pernambuco
Nossa busca de vitórias prevalece
O teu gingado tão malandro, tão matuto
Central, Central, Central
O teu nome me enche de emoção
Seja na terra, em outras terras
Tua bandeira é força e tradição.
ALVINEGRO PATATIVA
(Letra: J.C. Santiago/Ari de Carvalho. Intérprete: Lindenberg)
Alvinegro Patativa
Nas tuas cores têm emoção
O branco vemos no horizonte
A tua glória de campeão
O preto lembra com muita saudade
Onde estivermos de Norte a Sul
Tu és querido, grande guerreiro
És o Central de Caruaru
Tu es querido, grande guerreiro
Tu és Central de Caruaru
Alvinegro Patativa
Tu és temido no Lacerdão
Tua bandeira mora no peito
E a vitória já está na mão
Os centralinos não te esquecem
Onde estiverem de Norte a Sul
Tu és querido, grande guerreiro
És Central de Caruaru
Tu és querido, grande guerreiro
Tu és Central de Caruaru
AVANTE PATATIVA
(Letra e interpretação: Domingos Accioly e Jucélio Vilella)
Tem alegria e tem emoção
Com o Central eu vou, eu vou
Um centenário de história e tradição
De paixão e de um grande amor
A Patativa que é valente e é tão linda
E é com grande alegria que eu canto essa canção
Oh, meu Central
Esse alvinegro admirado
Tão querido e respeitado
Que a gente ama de paixão
E a galera toda está no clima
Avante Patativa
Cem anos de emoção
Quer ver gente corra pra’ avenida
Se quer ver gente feliz é só vir pro’ Lacerdão
Avante Patativa
Oh, meu amor
Cem anos de Central
Oh, linda história de amor!
Frevo em homenagem à Patativa é considerado “hino popular” do Central
Apesar de ter registrado ao longo de sua história três hinos oficiais, cada qual retratando uma época de glórias do clube, ainda permanece viva na memória dos torcedores, principalmente os que acompanharam o time nos anos 70 e 80, uma música gravada na capital pernambucana, num ritmo de frevo abaianado, numa pisada que fazia cada alvinegro vibrar nas arquibancadas, seguindo o ritmo dos atletas a cada nova vitória dentro de campo. Para muitos, um verdadeiro ‘hino popular’ a ser entoado por qualquer centralino – ou ‘centralista’, como prefere a velha guarda sempre que escuta os primeiros acordes. Isto pode ser comprovado agora por você, torcedor, bastando citar seus primeiros versos: ‘Patatatatativa, patatatatativa, eita cabra da peste, chegou no Agreste botando ‘pra quebrar’!
Escrita por um carioca, o Cel. do Exército Dewet Cardoso do nascimento, também formado em Educação Física, o frevo em homenagem à Patativa foi gravado em Recife pelo Grupo Gota D’água, através da extinta fábrica de discos Rozenblit, na década de 70. Com uma boa dose de humor, sua letra retrata justamente o que era o Central naquele período, desde sua profissionalização e o retorno às competições estaduais, quando tornou-se a quarta força do futebol pernambucano, sendo temido pelos times da capital.
Época em que a Patativa fazia o carnaval nas arquibancadas a cada nova vitória sobre os adversários; que encarava o Timbu como um rato, atropelava um gato metido a Leão e mesmo em pleno Mundão do Arruda, na década áurea do time Coral, não tomava conhecimento e dava um nó na cobra difícil de desatar. Nos anos 60, 70 e na década de 80, subir a Serra das Russas e encarar o Central no seu alçapão, o temido Estádio Pedro Víctor de Albuquerque, era uma missão espinhosa para qualquer time. E o resultado era quase sempre o mesmo: o choro dos visitantes, pois derrotar a Patativa dentro de seu reduto não era uma tarefa fácil.
Com o estádio quase sempre lotado, principalmente nos confrontos contra o ‘trio de Ferro’ da capital, não tinha moleza para os adversários que ousavam encarar o alçapão alvinegro. Afinal de contas, a raça, a bola na rede, enfim, a linha infernal tão temida pelos visitantes tinha nomes – Zito, Tchau, Patota, Zequinha, Gil Baiano, Porto, Zico, Zé Carlos Macaé, Pacheco, dentre tantos nomes que honraram as cores alvinegras. Era a ‘Patatatatativa’, que cantava alto dentro de seus domínios, tão amado pela sua torcida, os corações alvinegros que quase sempre ao apito final faziam das arquibancadas do velho PV um eterno carnaval.
FREVO PATATIVA – Letra: Dewet Cardoso do Nascimento (Década de 70)
Patatatativa, Patatativa
Eita cabra da peste
Chegou no Agreste botando pra’ quebrar
Central, Central, Central
Coração alvinegro fazendo o carnaval (Bís)
Deu um pau no rato, timbu, timbu
Atropelou um gato metido a leão
E lá no Mundão do Arruda
Deu um nó na cobra que ninguém desata não
Time que usa gibão de couro
Não leva desaforo para casa meu irmão
Te avisei não sobe a Serra da Russa
Quem sobe soluça, vai chorar no pé
Lá no Pedro Víctor
Carinho e chamego, a gente guarda pra’ mulher
E o resto é frevo, é raça
É bola na rede
É linha infernal
É time de bacamarteiro
Pintando o sete
Fazendo o carnaval