História, credibilidade e independência

O dicionário define jornalismo como ato de apurar fatos e transmiti-los à sociedade. Falar de jornalismo é tratar do livre acesso à informação e da capacidade de dar voz às reivindicações da sociedade. É acompanhar o amplo debate sobre temas de interesse coletivo e contribuir mostrando todos lados de um mesmo acontecimento. E isso é, acima de tudo, exercer a democracia.

Independentemente do setor de atuação, passar dez décadas empenhando esforços, sem esmorecer, mostra a firmeza de um propósito. Ao colocar em circulação o Jornal do Commercio, em 3 de abril de 1919, os Pessoa de Queiroz – seus fundadores – estamparam na capa a necessidade de integrar o desenvolvimento da região Nordeste ao restante do País e de dar voz, naquela época, às chamadas “classes produtoras”.

Era o início de uma publicação que teria sua história marcada pela defesa do bem comum e, mais ainda, do Estado de Pernambuco.

Desses cem anos de existência, falo com propriedade das três últimas décadas, período em que passei a atuar no setor da comunicação e em que assumi o desafio de levar adiante o Jornal do Commercio.

Os que me conhecem sabem da minha história; que meu DNA me identificava como um empresário do comércio varejista. Não entendia de jornal, de rádio e muito menos de televisão. Nascido e criado dentro de uma mercearia, acompanhei passo a passo a evolução de nossa empresa, que me exigia suor, dedicação e cuidado, no enfrentamento de tantas crises econômicas que marcaram nosso passado recente. Até que, no final da década de 1980, me vi diante de mais um desafio.

Os pernambucanos assistiam, inquietos e inconformados, ao lento naufrágio desse relevante patrimônio. Um movimento da sociedade se iniciou buscando impedir o fim do jornal e dos outros veículos que compunham o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (à época Rádio Jornal e TV Jornal), igualmente ameaçados pela crise que os assolava.
Foi então que um grupo de empresários começou a se unir, tendo como propósito reerguer o sistema de comunicação que, àquela altura, tinha no jornal as máquinas paradas e a circulação interrompida. Sua televisão e emissoras de rádio também estavam sob séria ameaça. Parecia a história de uma morte anunciada.

Somem-se a isso profissionais com salários atrasados, infraestrutura precária, equipamentos obsoletos e outras inúmeras questões que cercavam a empresa. Desse movimento inicial, imaginado para salvar o sistema, cujo símbolo maior era o jornal impresso, apenas um dos convocados permaneceu: o Grupo JCPM.

O que poderia ser motivo de desânimo, foi para mim, naquela época, um desafio, uma motivação, um novo impulso. A imensa dificuldade colocou diante de mim a difícil tarefa de recuperar o JC e fazer dele uma referência em credibilidade e qualidade da informação. Àquela altura, meu compromisso já era dos mais sérios. Desistir significava fracassar.
Nos últimos dias, é como se um filme antigo passasse na minha cabeça. Relembrando tais acontecimentos, fui tomado por um sentimento de emoção e orgulho.

Sergipano de nascimento, fui acolhido em Pernambuco com toda generosidade do seu povo. Cheguei com 27 anos, em 1965, para instalar no Recife o nosso primeiro supermercado, embrião de uma rede que mais tarde se estenderia por todo o Nordeste.

Passo a passo, meu vínculo com o Estado crescia. Ao receber os títulos de cidadão do Recife, em 1974, e de Pernambuco, em 1980, foi como se o meu afeto e sentimento de pertencimento estivessem, a partir daqueles momentos, definitivamente consolidados.

Reerguer uma empresa como o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação era uma forma de retribuir à sociedade pernambucana o respeito que ela, aos poucos, depositou na minha trajetória.

Defender os interesses desta terra, de forma apartidária, nem sendo governo nem sendo oposição, mas ecoando – sobretudo – os anseios da sociedade foi o caminho que escolhemos para seguir em frente e fortalecermos essa marca. Uma marca que passava a ser, cada vez mais, identificada como Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Tão umbilicalmente ligada que, para que todos vissem, colocamos na logomarca do jornal uma bandeira de Pernambuco, ali posta numa das nossas reformas gráficas, para nunca mais sair.

Pois bem: partimos de um jornal prestes a fechar as portas, em 1987, para um veículo de referência na região Nordeste. Investimentos em infraestrutura, na qualificação de profissionais e, o mais importante, no apoio e na valorização da liberdade de imprensa. Esses foram os passos que marcaram nosso caminho. Esses foram componentes valiosos para chegarmos até aqui.

Registro, por compromisso com a verdade, que nada foi fácil desde aqueles dias até aqui. Uma equipe aguerrida foi ano a ano ajudando a construir uma imagem de solidez e consistência. Passamos a nos destacar em premiações regionais e nacionais, tratando com competência temas de relevância para a coletividade.

Podemos dizer que a cada passo se tornava mais reconhecido o principal ativo do Jornal do Commercio: a credibilidade.

Em defesa de Pernambuco e de nossa região, lutamos, nas páginas do jornal, pela retomada das obras da Hidrelétrica de Xingó, cuja paralisação ameaçava com um inevitável “apagão” todo o Nordeste. Por Pernambuco, também iniciamos, nas páginas do JC, uma campanha pela instalação de uma refinaria em nosso Estado – conquistada pela excelência da infraestrutura do Complexo Industrial Portuário de Suape, que também recebeu sempre o nosso apoio, desde quando era apenas um sonho e um projeto.

Todos nós, que atuamos neste setor, sabemos que o momento atual é um dos mais turbulentos das últimas décadas. Além dos desafios que afetam a economia do nosso País, o segmento da comunicação vive uma efervescência jamais registrada.

As transformações na forma como a informação circula, assim com as mais diversas plataformas que passam a ser usadas como canais de difusão da notícia, desafiam profissionais e empresários. O que seria mais um motivo de desânimo e enfraquecimento tem servido de combustível para somarmos esforços, sermos ainda mais inovadores e valorizarmos os profissionais que estão conosco nesta luta. Estamos diante de um novo desafio.

Não fizemos tudo com o que sonhamos, mas fizemos mais do que nem mesmo imaginávamos naqueles primeiros dias de uma empresa que encontramos febril e convalescente.

A notícia sempre vai existir. E novamente vamos nos basear na credibilidade para seguir em frente. Acreditamos no futuro da informação. E vamos seguir cada vez mais integrados dentro de uma dinâmica multiplataforma, dando projeção e sendo – SEMPRE – a voz de todos os pernambucanos. Ainda há caminhos a percorrer.

João Carlos Paes Mendonça é presidente do SJCC e do Grupo JCPM