Do JC para o mundo

Impossível repensar minha carreira profissional sem lembrar e agradecer os anos que passei no Jornal do Commercio.

Para um jovem aprendiz de jornalista, que estava terminando o curso, estagiar no JC era um sonho a ser realizado. Mas não é que deu certo?!

Fiz o processo de seleção e entrei na editoria de Política. Meses depois do estágio, um outro sonho virou realidade: a contratação como profissional.

Poder trabalhar junto aos grandes jornalistas do Estado (não vou citar nomes para não correr o risco de esquecer algum) foi um privilégio.

O JC foi a minha escola. Conviver numa Redação repleta de feras na profissão só me fez ver o quanto eu havia acertado na minha escolha profissional.

Ir para o JC não era apenas ir ao trabalho, era ir encontrar amigos, era rir, era aprender, era sentir que éramos uma família.

Foram anos de alegrias e tristezas também, pois a vida é assim. Mas o mais importante é saber que toda aquele aprendizado continua comigo, além da certeza dos grandes amigos que fiz e que estão comigo até hoje”,

Antonio Tiné, pós-graduado em Comunicação Empresarial e em Gestão Estratégica e diretor-geral da Dupla Comunicação.

Nasci para o jornalismo na mítica Redação do JC na Rua do Imperador, parido a fórceps, pois nenhum jornalista vem ao mundo de parto natural, mas arrastado ao frenético mundo das rotativas por ensandecidos editores, com um olho na manchete e o outro no deadline. Se não me engano, tive o corpo aquecido em papel jornal. Desde então, deambulei por incontáveis casas, entretanto, talvez por nunca me terem cortado o cordão umbilical, acabei por retornar, na pele de filho pródigo, sempre recebido de braços abertos. No JC, cobri de tudo um muito, de Copa do Mundo a festa de madame, e lá também troquei horas de sono por trabalho, sem conhecer fins de semana ou feriado, pois neste sacerdócio todo dia é dia de branco. Foi no JC a minha última aventura jornalística antes de cruzar o Atlântico, não mais no papel, mas na etérea web, porém sempre com a mesma seriedade e rigor. Afinal, há valores que não se perdem com o tempo, nem mesmo um século depois. Estou longe de casa, mas a gratidão não conhece distâncias. Nesta data querida, parabéns, JC!”

Álvaro Filho, jornalista e escritor

O Jornal do Commercio sempre está presente nas nossas vidas profissionais. O nosso primeiro encontro foi quando éramos ainda estudantes de jornalismo, ávidas por aprender com os melhores nomes do mercado. Nesse momento, não só conhecemos as práticas jornalísticas, mas valores que levamos até hoje, como, o pensamento crítico, o trabalho em equipe e o respeito ao leitor. O segundo momento que nos reencontramos foi como consultoras na área de inovação digital, compartilhando e aprendendo com eles os novos desafios do jornalismo brasileiro diante da transformação digital. Dessa forma, a sensação que temos é que nunca saímos do Jornal do Commercio e nos sentimos privilegiadas em fazer parte, de um pouquinho, da história dos seus 100 anos.
Rosário de Pompéia e Socorro Macedo, sócias e diretoras da consultoria Le Fil

Rosário de Pompéia e Socorro Macedo

Graças ao Jornal do Commercio, me tornei jornalista. Os primeiros passos, as primeiras matérias, o aprendizado, a devoção aos mestres Ronildo Maia Leite, Carlos Garcia, Aramis Trindade, Wladimir Calheiros, meus professores na sala de aula da redação, que me ensinaram a ser um profissional com dignidade. Comecei como repórter esportivo, no vespertino Diário da Noite, onde me tornei secretário gráfico, repórter e editor de esportes.

Criei a coluna Dois Toques, que dividia com os saudosos companheiros Givanildo Alves e Lula Carlos. Depois tive a minha coluna diária no Jornal do Commercio. Fui o único enviado à Copa do Mundo de 1970, no México. Plantonista da Central de Notícias do JC, onde aprendi muito. Ganhei o Concurso de Reportagem do Cinquentenário da Empresa Jornal do Commercio, com a reportagem: Em dólar, quanto vale um sapo? Portanto, o Jornal do Commercio foi a minha base e o meu trampolim para os ousados saltos na minha carreira, sem esquecer a minha origem”, Francisco José, repórter da Rede Globo

Francisco José

Foi através de um convite de Flávia de Gusmão, então subeditora do Caderno C, que o JC entrou na minha vida. Nessa época, 1993, eu trabalhava como divulgador da Companhia de Eventos e vivia visitando a redação para levar material. Eu sempre escrevia matérias exclusivas, como uma forma de exercitar a profissão, mas nunca imaginava que esse detalhe era percebido por ela. Entrei para cobrir férias e fiquei durante quase um ano. De uma hora para outra, estava convivendo em uma mesma sala com Marco Polo (ele mesmo, o mito do Ave Sangria), Marcelo Pereira, Alexandre Figueroa, José Teles, Adriana Dória Matos, João Luiz Vieira, Ernesto Barros, Silvia Valadares e a própria Flávia, todos retratando em seus setores um período efervescente da cultura pernambucana. Só para situar, o nascente manguebit encontrou nas páginas do caderno um de seus maiores incentivadores. Foi através de Marcelo e de Teles que conheci Chico Science & Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Eddie, Devotos do Ódio e tantas outras bandas fundamentais. Eu não era o único novato. Kleber Mendonça Filho, amigo desde a adolescência, entrou na mesma semana e dividi com ele uma das minhas primeiras capas: radiografamos duas novas tribos que se impunham, os ‘clubbers’ e os ‘housers’. Alguém ainda se lembra desses termos? E ainda tínhamos o auxílio luxuoso de Julio Pedrosa e Luce Pereira como copidesques. Depois de um tempo, voltei ao Caderno C em 1995 para substituir o saudoso Geraldo Silva na coluna Imagem & Som. Fiquei até 1997. Mas a verdade é que nunca deixei de ser ‘da família’, seja pelas amizades mantidas ou apoio que o jornal sempre deu ao meu trabalho como roteirista e biógrafo. Tenho saudade das risadas, dos conselhos dos grandes jornalistas que convivi (de Lenivaldo Aragão e Aldo Paes Barreto ao também saudoso Ronildo Maia Leite) e do ‘pescoção’ das sextas, que sempre terminava em boa farra. Mas a mais relevante lembrança dos meus tempos de JC talvez seja a preparação da edição sobre a morte de Chico Science. O acidente aconteceu em um domingo à noite, às vésperas do Carnaval, e espontaneamente todos correram para a redação. Ao chegar às bancas, os leitores puderam ver o nome do Caderno C mudar pela única vez: virou Caderno Chico Science. Ninguém teria mais autoridade para essa homenagem”, Cleodon Pedro Coelho, jornalista, roteirista e biógrafo

Cleodon Pedro Coelho

Jornalismo é uma carreira onde é essencial a prática. É numa grande redação que se exerce, diariamente, o ofício do jornalismo sob deadline diário, com responsabilidade e cobrança pública, cultivando fontes e saindo da “zona de conforto” toda vez que o repórter tem que cobrir algo que não lhe é totalmente familiar. É por isso que se aprende tanto – aprende-se novos assuntos, a distinguir especialistas de enganadores, a escrever sob pressão e para ser entendido.

E não existiu melhor escola do que o JC. Lá, eu descobri excelentes profissionais comprometidos em apurar a melhor versão possível de se obter da verdade, na definição do ofício por Carl Bernstein, um dos mestres da profissão. Também conheci o ‘clima de redação’ onde impera a brincadeira e todos têm muitas histórias para contar – de colegas, de ‘doidos’ que tentam emplacar matérias sem pé nem cabeça, de audaciosos furos e como bons repórteres conseguem triangular fontes e driblar restrições para escrever matérias que mudam vidas e políticas públicas. Nos quase seis anos que fiquei no JC, colecionei várias dessas histórias.

Entrevistei de presidentes a miseráveis, no Brasil e exterior. Conheci a fundo o meu Estado viajando em várias regiões, sempre na companhia de grandes profissionais da fotografia e do volante. Escrevi matérias para todas as editorias. Na redação integrada, também participei das coberturas online, da rádio e da TV. Aprendi muito como profissional e como pessoa – o bom jornalismo é um exercício de empatia, de entender, sob a perspectiva do leitor, o que lhe interessa (a pauta de relevância pública) e como lhe interessa (pois formatos evoluem com o tempo)”, Renato Lima, doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e professor na Asia School of Business, escola internacional de negócios criada em parceria com o Banco Central da Malásia e a Sloan School of Management do MIT, com atuação global.

Renato Lima

A primeira vez que entendi que jornalismo era um trabalho inesgotável de equipe foi na Rua do Imperador, antiga sede do JC. Eu não tinha me formado ainda, mas passei no teste para estagiar no Caderno C, com uma reportagem sobre o show de Chitãozinho & Xororó, apurada completamente na fila. Eu arrisquei contar a história dos fãs sem que eu precisasse assistir à apresentação. Na minha arrogância juvenil, eu achava que nossa profissão era feita apenas de duas mãos, dois ouvidos e dois olhos. Mas, no dia a dia, fui percebendo o papel dos editores e dos colegas corrigindo muito mais do que vírgulas fora do lugar. As reuniões de pauta semanais me ensinaram também a permitir que o outro discorde sem que isso seja uma afronta. Cada um pensava diferente, e essa mistura fazia o Caderno C o que era: um mosaico de visões de mundo que se complementavam. Quando vejo o Brasil hoje, calando diferenças, resgato o modelo do JC como uma memória viva daqueles encontros que não buscavam aniquilar o outro, mas, essencialmente, reunir energias diferentes para fazer o melhor.

De longe, nunca deixei de acompanhar o jornal do meu coração. É um olho na BBC e outro no JC. Não porque busco notícias das minhas raízes, já que é uma conexão permanente. Mas, principalmente, para testemunhar as novas linguagens, o modo de fazer a nossa profissão à luz de uma crise sem data para terminar, pressionada por fake news e pelo esgotamento de um modelo de negócios. Que os próximos cem anos continuem esse legado”, Maria Cleidejane Esperidião, editora do Jornal Nacional, TV Globo

Maria Cleidejane Esperidião

Na primeira vez que botei os pés na redação do Jornal do Commercio pensei: isso é um caos. E é mesmo. É um caos com gente demais falando ao mesmo tempo, correria contra o relógio e muita coisa fora do lugar – quantas vezes perdi o meu bloquinho de anotações e tive que escrever aquilo que os entrevistados me diziam por telefone em qualquer pedaço de papel que estivesse ao alcance? Mas todo mundo se entende, se ajuda e tudo dá certo. O dia a dia no JC me fez ver que redação de um jornal e o jornalismo são feitos de suor, parceria e solidariedade. Aprendi sobre o jornalismo, me diverti e afundei preconceitos. Saí do jornal com amigos no peito e um amadurecimento profissional que só brota naqueles terrenos regados com cobrança – sim, houve muitas – e incentivo – esse nunca me faltou dentro do Jornal do Commercio. Que o JC continue a formar e valorizar excelentes profissionais como fez ao longo dos seus 100 anos e que esses sigam a contar boas histórias, tendo em mente esta citação do jornalista Joseph Mitchell no livro O segredo de Joe Gould: “O que nós pensávamos que era história – reis e rainhas, tratados, invenções, grandes batalhas, decapitações, Cesar, Napoleão, Pôncio Pilatos, Colombo – é só história formal. Vou registrar a história informal de gente em mangas de camisa – o que o povo tem a declarar sobre seus empregos, amores, comidas, pileques, problemas, tristezas – ou hei de morrer tentando”, Franco Benites, jornalista e Mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho

Franco Benites

A passagem do primeiro centenário deste Jornal do Commercio é uma excelente oportunidade para refletir sobre o futuro da mídia impressa. O JC, afinal, vai continuar longevo? Como assegurar que não será engolido pelos avanços tecnológicos? Depois de alguns anos pesquisando como enfrentar a velocidade da internet que informa antes, surgiu para os impressos a grande oportunidade de dar a volta por cima. As fake news (notícias falsas) destruíram a credibilidade das notícias distribuídas através das mídias sociais. Lemos uma notícia, aparentemente sensacional, e duvidamos. Será que é verdade? O acesso indiscriminado multiplicou as notícias falsas.

Sou otimista sobre o futuro da mídia impressa e do nosso JC. Fiz parte da equipe de Redação do JC em fases boas e ruins. O período difícil durou 17 anos e foi plenamente superado. Desde 1987 que o jornal retomou o crescimento. E vai crescer ainda mais agora que os pernambucanos estão testemunhando que as fake news destroem irremediavelmente a credibilidade das mídias. Se o que leram é falso ou verdadeiro, o leitor tem que apelar para o impresso no dia seguinte.

Maior jornal do Estado, o JC deve entrar confiante no caminho do segundo centenário, usando acertadamente a fórmula da credibilidade para confirmar a admiração dos seus leitores”. Roberto Tavares, foi diretor adjunto de Redação do Jornal do Commercio

Roberto Tavares

Lembro vagamente da entrevista de seleção para estagiário, numa sala que dava para a Rua Marquês do Recife, por onde se entrava no velho prédio da esquina com a Rua do Imperador. Celso Calheiros, que editava Informática naquele 1995, quando a internet engatinhava, cuidou da seleção, e foi meu primeiro editor, ao lado de Ceça Britto (Turismo) e Tonico Magalhães (Campo). Dos Suplementos certa vez escapuli para uma pauta de Cidades. Levantei números inéditos sobre encarceramento de menores infratores, fui ao centro para onde na época eram levados – a Fundac, em Paratibe –, conversei com os internos. Maria Luiza Borges, então editora de Cidades, gostou, e a matéria virou manchete de Primeira Página de domingo. Para mim, ainda estudante, foi um feito.

No JC tive minha primeira vivência de Redação e de jornalismo profissional. Fiquei um ano, mas um ano intenso e divertido. Fiz amigos e colegas, aprendi. Na época, com arrojo editorial, o JC já sobressaía em relação ao vizinho vetusto, o velho Diário de Pernambuco, ‘o jornal mais antigo em circulação na América Latina’ do slogan.

Mudei-me do Recife logo depois, há 23 anos. Nunca deixei de ler o Jornal do Commercio, de acompanhar as mudanças, de esquadrinhar suas virtudes e defeitos – como um amigo ou parente de quem a distância não corta os laços de afeto.”

Fabio Victor, recifense radicado em São Paulo, é repórter da revista Piauí. Trabalhou por 20 anos na Folha de S.Paulo, como repórter, editor e correspondente internacional.

Fabio Victor

O jornalismo sempre foi um mundo que me fascinou pela força da construção social das narrativas investigativas. De leitora voraz dessas reportagens a produtora de conteúdo, o percurso foi longo: rádios, assessorias de imprensa, televisões até chegar ao impresso. Em 1996, entrei no Jornal do Commercio. Fui tirar umas férias e fiquei 18 anos. Tive a oportunidade de passar por todas as funções da editoria de Política, missões que me deram experiência profissional e, sobretudo, de vida. Em quase duas décadas no JC, presenciei a aposentadoria das máquinas de escrever, a chegada dos computadores, a mágica do fax nas viagens e as facilidades e modernidades do celular. Do papel a um mundo interligado em rede, vi surgir o profissional multiplataforma com todas as dores e delícias por estar on-line 24 horas. É essa experiência que hoje transmito aos meus alunos do campus da UFPE de Caruaru, onde estou desde 2015. Ensino a eles o que aprendi nas bancas das universidades e no batente do JC: a ser uma profissional que zela pela informação bem apurada, pelo texto construído com respeito aos entrevistados e ao público e pela edição das reportagens escritas com ética e foco no interesse público”, Sheila Borges, professora-adjunta da UFPE e coordenadora do Núcleo de Design e Comunicação do CAA/UFPE.

Sheila Borges

Os batuques furiosos na Olivetti Lexikon 80 verde-oliva, embora não incomodassem os colegas do lado, com frequência produziam textos que perturbavam gente de notável influência na sociedade local. De modo que não eram inusuais protestos e contestações ao que fora publicado na edição do dia. Algumas vezes, foi pedida à direção a cabeça do autor. Em razão de certa fúria juvenil, que conseguia fazer-se presente tanto em pequenas notas quanto em reportagens de fôlego, eram absolutamente justificáveis as recomendações, por parte da chefia, de sobriedade e prudência. Mas o imprescindível mesmo, para a direção do jornal, era que a informação tivesse sido bem apurada e checada. Havia ainda uma exigência adicional, dada a natureza da coluna Repórter JC: o conteúdo precisava também ser exclusivo. Cumpridos esses requisitos, a chefia não impunha restrições e arcava com o ônus de lidar com os aborrecimentos advindos da repercussão. Nada menos do que bom jornalismo. Na prática. Diariamente”, Kaíke Nanne, foi editor da coluna Repórter JC de janeiro de 1989 a dezembro de 1990 e hoje é diretor-executivo da Bites. Duas vezes ganhador do Prêmio Esso, atuou em diversas publicações, como Veja, Época e Playboy. Foi publisher nos grupos Abril, Time Warner e HarperCollins.

Kaíke Nanne

Em 1968, ainda estudante do 2º grau, com 16 anos de idade, fiz estágio durante 60 dias no Jornal do Commercio, a convite do editor de política Geraldo Seabra. Eu ajudava (ou atrapalhava) o repórter Gustavo Maia Gomes na cobertura da Câmara Municipal do Recife. Como o primeiro ‘furo’ ninguém esquece, guardei por um bom tempo a edição do jornal que exibia, na primeira página, a foto do cartaz-convite de uma celebração da Igreja Católica de Dom Helder Camara na qual o vereador Wandenkolk Wanderley identificava signos comunistas. Parafraseando Zuenir Ventura, graças ao Jornal do Commercio, 1968 é um ano que não acabou também para mim”,

Og Fernandes, ministro do Superior Tribunal de Justiça

Og Fernandes

Trabalhei no Jornal do Commercio por cerca de 15 anos, entre meados da década de 1980 até a virada da década de 1990 para o novo milênio. Comecei como estagiário, trabalhei como repórter nas editorais de Cidades e de Política, e cheguei a ser subeditor de Política e editor interino do caderno. Tive duas grandes escolas de jornalismo na minha vida: a Universidade Católica de Pernambuco, onde me graduei, e o Jornal do Commercio, onde aprendi a ser jornalista. Quando comecei a trabalhar no JC, o veículo ainda não havia sido adquirido pelo empresário João Carlos Paes Mendonça.

Assim, tive a sorte de acompanhar toda a transição de uma empresa em estágio falimentar até que se tornasse o jornal de maior circulação no Estado. Posso dizer, então, que fiz parte do time de jornalistas que participou de todo o processo de reconstrução do jornal, iniciada a partir da aquisição da empresa por parte de João Carlos. Essa reconstrução se deu graças a um time fantástico de repórteres, chefes comprometidos com o bom jornalismo e bons gestores administrativos. Sem dúvida, no Jornal do Commercio tive a experiência profissional mais fascinante da minha vida. Por isso, torço para que o JC viva mais 100 anos e mais e mais e mais”, Rossini Barreira, diretor da Synergika Comunicação e Gestão Organizacional

Rossini Barreira

A chance de praticar um jornalismo crítico e aberto à criatividade foi decisivo. A inquietação e a abertura ao novo podem ser consideradas vitais nas duas etapas de atuação no jornal. Primeiramente, no período em que, mesmo ainda sem ‘diploma’’, colaborava. Um exemplo desse tempo? A longuíssima entrevista com o escritor Ariano Suassuna, quando ele estava quase inacessível. Depois, no exercício pleno da reportagem e da edição. As pessoas podem ser vistas como empresas? Sim, pois têm de aprender a “administrar” a própria vida. Por outro lado, não seria exagerado enxergar uma empresa com uma pessoa feita de pessoas, como o pássaro borgeano feito de pássaros, com mente, corpo e espírito. Mais do que a metáfora, a Redação do JC representou uma experiência viva. De informação (com personalidade) e consciência que brotam numa espécie de palavra-ação visceral”, Mario Helio, antropólogo, escritor e professor visitante da Universidade de Salamanca

Mario Helio

Boa parte da minha vida está relacionada com o JC. Entrei para seus quadros recém-saído da adolescência, durante a ditadura. Participei de sua angustiante decadência e seu glorioso renascimento ao ser comprado por João Carlos Paes Mendonça. Fui da máquina de escrever ao computador.

O JC é parte do meu DNA”, Marco Polo, escritor, compositor e cantor da banda Ave Sangria

Marco Polo

Entre 2000 e 2004, fui estagiária e repórter de Economia. Foram quatro anos que ficaram guardados como uma época maravilhosa, porque eu trabalhava num jornal inovador, que apoiava as mais variadas pautas e me dava a oportunidade de experimentar formatos, temas, textos e colaborações para outras editorias.

Chegar à Redação para mim era ao mesmo tempo me sentir em casa e ter um mundo de possibilidades e de desafios. Era preciso correr atrás para fazer diferente, observar os grandes repórteres, aprender com os erros e pedir conselhos aos mais experientes. Como eu cobria agricultura e pecuária, comecei a viajar para o interior. Junto com Reginaldo Araújo, motorista desenrolado e meio repórter, e um fotógrafo, geralmente Hans Von Manteuffel, embarcávamos no Gol branco do JC – sem ar condicionado – com lanches e fitas cassete para escutar no caminho. Usávamos orelhão. Mas eram essas limitações que faziam com que a nossa imersão e envolvimento com o contexto fosse intensa.

Qualquer pessoa andando pela beira da estrada podia virar uma pauta. Além disso, tive a excitante oportunidade de cobrir as primeiras eleições da Argentina após a quebra de 2001, como enviada especial em 2003. Foram 16 dias enviando material diretamente de Buenos Aires, com apenas 23 anos de idade. Esta experiência me fez decidir fazer uma pós-graduação no país vizinho em 2004, onde vivo até hoje e onde guardo o JC num lugar especial e de gratidão no meu coração”, Mariana Camaroti Silva

Mariana Camaroti Silva

Estou segurando o cabelo, olhando meio de lado, para a fotografia. Sou eu aos 24 anos sendo apresentada como uma das jornalistas que escreveu a edição dos 80 anos do JC. Eu queria mudar o mundo. Vinte anos depois, ainda quero.

Foi no JC que aprendi o exercício necessário de promover alguma iconoclastia. Sim, foi dentro de um veículo produtor e reprodutor de representações que percebi: mudanças só são possíveis quando nos perguntamos sobre a legitimidade dos discursos que nos circundam. Esse aprendizado foi uma metástase, um bicho que está agora sentado ao meu lado, segurando a minha mão. Ele é a minha arma (e escrever é uma arma quente). Fui com esse bicho ao Sertão e ao STF.

Com ele, entrei em uma casa cujo maior bem era uma lata de tinta transformada em fogão. Vi uma mulher ninar, como se criança, uma estátua de Nossa Senhora Aparecida – a santa tinha o nome de sua filha, assassinada pelo marido. Com o bicho ao meu lado, encontrei Diadorim e vi uma mulher nascer aos 50 anos.

Em duas décadas, o jornalismo foi duramente golpeado, tanto por fatores econômicos quanto por uma recusa de refletir sobre si próprio. Hoje, sofre uma grave crise sobre sua produção, gerada em parte por essa ausência de reflexividade. É questionado, absurdamente, como instrumento democrático.

Mas, ao contrário do que se propaga, está vivo e apresenta movimentos de reinvenção. Eles estão acontecendo, agora – e são feitos, em sua maioria, por gente que quer mudar o mundo”, Fabiana Moraes, jornalista, professora e pesquisadora do Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (NDC/UFPE).

Fabiana Moraes

Completar um centenário quando o jornalismo profissional enfrenta a sua mais grave crise é um sinal da força do princípio que norteou o Jornal do Commercio durante toda a sua existência: o compromisso com a verdade, com os seus leitores e com os valores mais caros à sociedade brasileira.

Sou grato por fazer parte desta jornada. Foi no JC que comecei minha carreira há 30 anos. Foi no JC que aprendi a escrever, que aprendi a ouvir todos os lados de uma história, que aprendi a servir os leitores em primeiro lugar e a não tomar partido, que aprendi a ter orgulho de ser jornalista.

Aprendi tudo isso e também a amar buscar notícias com incríveis jornalistas, os quais, por sua vez, receberam o bastão de outros incríveis jornalistas, que também herdaram esses valores de todas as outras gerações de jornalistas a serviço do JC nesses 100 anos.

Levei essas lições comigo ao longo da minha carreira no Brasil, em Londres e em Nova York, trabalhando nos mais prestigiados veículos de comunicação brasileiros, ingleses e americanos.

Ao JC e às inúmeras gerações de jornalistas que fizeram dele, minha gratidão eterna”, Fábio Alves, ex-repórter da Bloomberg News e da Dow Jones Newswires, da BBC e atualmente colunista de economia do Estadão

Fábio Alves

Sempre fiz parte da ‘cozinha’ do jornal, como dizemos dentro da Redação, trabalhando nos bastidores e cuidando do visual e do design do produto.

De 1999 até agora, ou seja, durante 20 anos, fui o responsável por dar a cara e o visual desta empresa.
Foram vários projetos gráficos e criações de marcas sobre a batuta dos mestres Ivanildo Sampaio e Laurindo Ferreira.

Deixei minha marca para a história com muito orgulho e desejo mais 100 anos para esta empresa de que tive muito orgulho de trabalhar”, Bruno Falcone Stamford

Bruno Falcone Stamford

Eu tinha pouco tempo de Jornal do Commercio quando percebi, casualmente, a importância que a empresa concede às questões que envolvem Pernambuco.

Era o período que antecedia uma nova reforma gráfica, que daria uma face moderna ao jornal. Naquela batalha de argumentos entre jornalistas, designers, publicitários, alguém sugeriu reduzir ou quem sabe retirar a bandeira de Pernambuco que até hoje repousa junto à marca, no topo da primeira página. Daria mais leveza, alegou-se. Eis que o funcionário mais antigo deu logo o recado: “Seu João Carlos pode mexer em tudo, menos tirar essa bandeira”. E a ideia foi sepultada.

Passei 15 anos no JC, sempre na editoria de Economia. Neste período, presenciei e participei de várias discussões cuja a linha-mestra do noticiário era sempre a de defender Pernambuco.

Confesso que nunca tive a mentalidade tão aferrada a questões locais. Mas sempre admirei e vi nesta política editorial do JC uma demonstração inequívoca de coragem e força. Algo como a máxima de Leon Tolstói: “Fale de sua aldeia e estará falando do mundo”.

Em tempos de incerteza, é reconfortante saber que, aos 100 anos, o nobre JC mantém sua capacidade de enfrentar crises e desafios. Sempre de pé e altivo, como Pernambuco e sua história”, Saulo Moreira, assessor de imprensa do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco

Saulo Moreira

‘O Jornalismo é um rascunho bruto da história’, disse o americano Philip Graham, ex-presidente do Washington Post. Por mais de 13 anos, tive a honra de fazer parte do time do JC. Fui estagiário, repórter e colunista no rascunho bruto e diário de nossa euforia e frustração, de Copa do Mundo, vitórias políticas, da Lava Jato, de crimes e negócios inovadores. Quem não conhece alguém que perdeu dinheiro na Telexfree ou em alguma das pirâmides financeiras que pipocaram, há 4 anos? Quem não lembra do boom de Suape, da disparada e do travamento do preço de casas e apartamentos? São tantos rascunhos e histórias, e, ainda assim, isso é apenas parte do que o JC registrou em um século. Um mundo em mudanças intensas antes da internet, mas que agora passa por transformação profunda. É nesse contexto desafiador que o JC chega ao centenário, de parabéns por seguir escrevendo o rascunho bruto da história de nossa terra e nossa gente”

Giovanni Sandes, jornalista e estudante de MBA, com especialização em Management of Technology & Innovation, na Ted Rogers School of Management, Ryerson University

Giovanni Sandes

(Com licença de Nelson Ferreira)
Arruda, Paulo Barreto, Divane e Menezes,
Cadê teus furos famosos?
Blocos de textos bem cuidados, escritos e reescritos tantas vezes
A limar o que não fosse necessário.
Na alta madrugada
O coro das linotipos entoava
O que toda a cidade, o Estado, quem sabe o mundo
Comentariam no dia seguinte.
Era o sucesso daqueles tempos ideais
Do velho Vladimir Calheiros.
E o Recife, prestes a acordar,
Ficava mais um pouco a sonhar
À espera do que haveria de saber.

Ricardo Noblat, blogueiro de política no portal da Veja

Ricardo Noblat